Costumamos nos preocupar muito se vamos para o céu ou para o inferno. Em como será o tão aguardado julgamento… Porém, lendo um texto de Bento XVI (a encíclica Spe Salvi), me deparei com uma visão interessante: não é exatamente Deus quem nos julga, com um martelinho num tribunal, mas simplesmente nós que teremos que conseguir ficar junto da sua presença. Jesus já dizia que o “julgamento” é conseguir ficar na presença de uma luz fortíssima, onde nada se esconde, tudo fica às claras (Jo 13, 19-21). Quem tem a vista pouco acostumada com a luz, não tem jeito, não consegue; não tem óculos escuro que resolva. A misericórdia divina vai tentar aproximá-la, mas a própria alma não vai conseguir ficar ali. E é isto o inferno: deixar de estar junto de Deus, por não conseguir se deparar com a verdade de si mesmo. Se vai ter capetinha e fogo queimando a bunda, não sei. Mas, certamente, não deve ser uma boa sensação…
Já o céu seria ter tido uma vida tão “às claras” que a alma simplesmente já chega entrando em comunhão com o divino. Não estranha a luz, e já vira parte dela. Mergulha no mar do sagrado, consubstancia-se… E é o que a Igreja Católica chama de “santos”: pessoas que já estão tão próximas de Deus, já irradiam tanto a Sua presença, que se tornam um só com ele.
Sabe aquelas pessoas que a gente olha e diz: “são iluminadas”, quase perfeitas? E sabe aquelas que parecem, infelizmente, não ter jeito, têm o mal tão impregnado dentro de si que parecem que nunca irão se redimir? Pois é: é fácil imaginar que as primeiras vão pro céu e as segundas pro inferno. Mas ambos esses tipos de pessoas, as muito boas e as muito más, são minorias extremas. A maior parte de nós está em algum ponto disso tudo: nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. Então, segundo o papa Bento, a maioria de nós provavelmente irá para o purgatório.
Não se trataria necessariamente de um local onde se passa um tempo, mas de um estágio de purificação, que talvez transcenderia a noção de tempo. Ninguém sabe ao certo como seria, mas creio que é uma coisa que tem a sua lógica. E confesso que me traz certo alívio, sabe? Ter que ir pro céu de cara, sendo que nunca se sabe quando será a nossa hora, é um peso muito grande. Prefiro me preocupar com a vida aqui, e pensar que o resto é mera consequência…
Bem, mas hoje uma alma querida deparou-se com essa luz. Luz que ela sempre buscou, enquanto viveu aqui entre nós… Para nós, que ainda vivemos na penumbra, o que fica é uma grande tristeza, um vazio enorme. Mas, para ela, certamente não há paz maior. Devia estar ansiosa por este momento!…
Que Deus nos console e te acolha, tia Aninha. Que ao se tornar um só com Ele, com a vó Maria, com o vô Nico e tantos outros, você seja mais dois olhinhos a velar por nós aí de cima!…
E que Deus, mesmo já sendo inteiro, se sinta um pouquinho mais completo ao te ter ao lado!…